terça-feira, janeiro 17, 2006

The Grey Album e o cinzentismo da indústria musical


Em 2004 um ilustre desconhecido provocou uma guerra entre a indústria e os fãs de música. No epicentro do conflito estava The Grey Album, um artefacto dos tempos modernos. Danger Mouse - Brian Burton de baptismo - misturara o White Album dos Beatles com o Black Album de Jay-Z. Utilizando os instrumentais dos Fab Four e as vocalizações acapella do rapper americano criou um todo fresco e coerente. Sem ter os direitos de autor de nenhum dos artistas - e até porque a sua intenção não era publicar o resultado final oficialmente - o disco (em formato digital) começou a circular na Internet entre fãs ávidos que o iam passando entre si. A partir daí já não havia como voltar atrás. A EMI (detentora dos direitos sobre a obra dos Beatles) pressionou fortemente Danger Mouse e sites afiliados para retirarem a criação deste da rede global (a expressão usada foi “cease and desist”).
Esta situação veio pôr em causa os limites da criação musical. Será que misturar criações alheias num resultado diferente era algo novo ou apenas plágio? Como já anteriormente com o fenómeno dos mash-ups (como os 2manyDjs o fizeram) a controvérsia foi enorme, alguns contra – as grandes editoras sobretudo - a grande maioria claramente a favor (os fãs, claro está).
O conflito teve o seu clímax dia 24 de Fevereiro de 2004 (uma terça-feira) quando centenas de sites na web disponibilizaram contra as ordens da EMI o Grey Album para download durante essas 24 horas. Foi o dia da desobediência (civil) digital ou como ficou para a história The Grey Tuesday. O resultado foi esmagador: cerca de 100 mil cópias do disco e mais de 1 milhão de músicas foram descarregadas.
Consequente a imprensa deu amplo destaque ao fenómeno e muitas publicações (online e em papel, caso do The New Yorker) fizeram criticas entusiásticas à criação de Danger Mouse. Seguiram-se também múltiplas experiências com as vocalizações do Black Album de Jay-Z por outros artistas anónimos, cruzando-as com bandas como os Pavement, Weezer ou Prince, só para nomear alguns.
Depois disto o anonimato deixou de servir ao homem que foi buscar o pseudónimo a uma popular série de desenhos animados. Foi convidado por Damon Albarn para produzir o segundo disco dos Gorillaz (é dele a produção de Demon Days) e encetou uma colaboração com MF Doom intitulada DangerDoom: The Mouse and the Mask. Acaba também por finalmente se estrear em nome próprio (Ghetto Pop Life)
Quanto a The Grey Album, continua na Internet para quem o quiser ouvir...

João Terêncio

1 Comments:

At quarta jan. 18, 08:21:00 da tarde 2006, Anonymous Anónimo said...

Não sabia... fantástico!

 

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